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Caminho do Peabiru, do Massiambu ao Peru x6y73

A estrada da foto de capa, é antiga Trilha dos índios tribo guarani-Massiambu - Foto do Google-Altair Geovane 353d5t

Na data de 24 de abril de 2020 Palhoça comemorou 126 anos de sua fundação. Que tal relembrar nossa rica e bonita história esquecida em livros e documentos antigos, rememorar a epopeia vivida por Aleixo Garcia e os guaranis da Baixada do Massiambu em direção ao Império Incas no ano de 1524.

Aleixo Garcia o grande descobridor viveu em Palhoça

O Caminho do Peabiru uma longa e misteriosa estrada utilizada para interligar o Oceano Atlântico ao Pacífico, cortando matas, rios, pântanos e montanhas já existia antes da chegada de Cristóvão Colombo e de Pedro Álvares Cabral à América.
Em Palhoça, muitos séculos antes da fundação, Aleixo Garcia, o maior desbravador da América do Sul, partiu do Porto dos Patos, no Massiambu, pelo centenário Caminho do Peabiru rumo ao Rio da Prata. A aventura do português iniciada em 1524 é reconhecida pela História do Paraguay, Bolívia, Argentina e Peru. Foi o primeiro europeu a cruzar o continente sul-americano antes de qualquer homem branco.
Depois desse episódio muitas expedições aram no litoral de Palhoça em direção ao Império Inca na busca do cobiçado ouro e prata.

Várias trilhas partindo do litoral levam ao Império Inca



O verdadeiro descobridor do Peru foi Aleixo Garcia, embora em1539, Francisco Pizarro navegando pela costa do Pacífico, aprisiona e mata o último imperador Inca, Atahualpa, saqueia muito ouro e prata do Império e leva tudo para Espanha,
No Paraguai, Aleixo é herói nacional, considerado o iniciador da história paraguaia, onde há estátuas e também na Bolívia.
Registros afirmam que o espanhol Álvar Nunez Cabeza de Vaca seguindo pelo Caminho do Peabiru descobriu em 1542 as Cataratas da Foz do Iguaçu. Os jesuítas espanhóis também utilizaram o Peabiru nas missões de catequização e aldeamento de indígenas, no século XVI. Já no século XVII, os bandeirantes paulistas trilharam os mesmos caminhos para desbravar o interior do Brasil.

Caminho do Peabiru- Caminho do Sol - a busca da Terra Sem Mal

A extensão do milenar caminho indígena e seus diversos ramais perdidos no emaranhado de mata tem muitas denominações: caminho comprido, caminho seco, caminho bom, caminho amistoso, caminho do sol... Na língua guarani era chamado de Tapé Avirú e em tupi de Peabiru.
Para os indígenas a rota sagrada usada na busca da Terra Sem Mal, poderia estar na Cordilheira dos Andes (Oceano Pacífico), onde o sol se põe; ou no Paraguai, o centro do mundo guarani; ou no Oceano Atlântico, onde o sol nasce. O consenso da maioria dos pajés é que a Terra Sem Mal estaria onde tem mar e céu, onde o contato com Deus fica mais próximo .

Partindo de algum ponto do litoral Atlântico, os guaranis caminhavam pelo Peabiru, adentravam o interior do continente ando por planaltos e montanha e chegavam aos Andes. O caminho formado por uma rede de várias trilhas curtas em linha reta daria mais de quatro mil quilômetros de comprimento. Uma dessas trilhas partia do Maciambu e conduzia os índios guaranis de Palhoça até ao Império Inca.

Pouco explorado e esquecido, hoje, o caminho é simbolizado por estradas de chão batido originada a partir das milenares trilhas. Ao pé do morro dos Cavalos um trcho da rota utilizada pelos guaranis deu origem a um trecho da BR101. A jornalista escritora Rosana Bond argumenta em “A Saga de Aleixo Garcia – O descobridor do Império Inca” que nos anos 1500 o Morro dos Cavalos era área de uso e circulação dos guaranis. “[...], existia ao pé do morro um caminho indígena, comprovado por relatos dos séculos 16, 17 e 18, e ainda por um mapa militar português de 1786, de o e só publicado em Santa Catarina há poucas décadas. Em cima desse caminho transitado pelos antigos guaranis é que parece ter sido traçado o leito da BR-101 naquele trecho”.

Na localidade do Massiambu Pequeno, a estrada de barro que desce no Morro no Cavalos até à Pinheira é identificada como um símbolo do Peabiru. Conduzidos por guias de turismo muitas pessoas se aventuram em conhecer o caminho que faz parte da história de Palhoça. Há alguns anos faz-se propaganda da trilha, segue na figura abaixo.




Reminiscências desse caminho são encontrados em pontos isolados de mata e em algumas localidades. Apresentam cerca de 1,40 metro de largura e leito com rebaixamento médio de cerca de 40 centímetros, recoberto por gramíneas ou pavimentado com pedras nos trechos mais difíceis.



Quem construiu o Caminho do Peabiru?

O caminho que transpõe o tempo faz parte de longos estudos. O arqueólogo catarinense padre João Alfredo Rohr, relata marcas rupestres gravadas em formações rochosas e ruinas de construções em pedra que teriam sido habitados por ancestrais dos povos tupi-guarani
Sinais de pegadas humanas em baixo relevo são encontradas no longo litoral catarinense. Algumas pesquisas associam tais marcas de pés ou pegadas à agem do lendário personagem Sumé ou São Tomé . A tradição guarani também atribui ao ancestral civilizador a construção do caminho. Em uma de suas lendas indígena descreve a agem de um homem branco de barba longa e branca, chamado Pai Sumé, que caminhava sobre as águas e havia construído este caminho para alcançar as terras distantes. No século XVI, os jesuítas batizaram de "Caminho de São Tomé", tendo-o utilizado nas suas atividades de evangelização e aldeamento de indígenas.

Outra hipótese defendida por alguns historiadores é que os incas construíram o caminho para um projeto de expansão do seu Império em direção ao atlântico e dominar terras guaraníticas, mas com a resistência das tribos litorâneas desistiram da incumbência.

Desde o descobrimento do Brasil vestígios de objetos do povo Inca são encontrados no litoral de SC, SP e RS. Como chegaram até aqui? Segundo Rosana Bond, não há comprovação de como os objetos chegaram até aqui, se trazidos pelos incas ou saqueados por guaranis na zona andina. O fato é que em 1516, machado de prata, adornos de ouro e prata e outras peças de metal que estavam guardados com os guaranis no Porto dos Patos (região do Massiambu) foram apresentados ao náufrago Aleixo Garcia. Em depoimento à pesquisadora Rosana Bond, o cacique Werá Tupã, relata: “Os guaranis iam lá (nos Andes) e às vezes até ajudavam os incas a fazer suas casas de pedra. Os guaranis traziam vários milhos de lá. O milho, você sabe, é uma coisa sagrada. Esses milhos a gente conserva até hoje. Os incas eram os seres perfeitos que os guaranis queriam alcançar”



Guaranis e europeus no Porto dos Patos- Massiambu

O litoral sul do Brasil era considerado a porta de entrada para buscar as riquezas do Prata, tornou-se por isso território disputado entre as Coroas Ibéricas (Portugal e Espanha). A costa catarinense bem posicionada geograficamente, ou a desempenhar importante papel no apoio aos navegadores europeus que chegavam na costa brasileira a partir do século XVI.


Mapa com rotas do Paebiru na América do Sul

Palhoça, habitada pela grande nação guarani, chamados de Karyó ou carijó, mantiveram o primeiro contato com europeus náufragos sobreviventes da expedição de Juan Dias de Solis naufragada na barra-sul em 1516, e de desertores do galeão San Gabriel em 1526.

Os europeus aqui chegando, adaptaram-se aos costumes e cultura dos índios, casaram com as filhas dos caciques e constituíram famílias. O escritor Mosimann descreve as terras habitadas pelos guaranis entre o mar e a Mata Atlântica na baixada do Massiambu, uma várzea ‘rica em aves sem pena e bico comprido, pássaros tipo marrecos que se alimentavam de peixes’. A região cortada pelo navegável rio Massiambu era propícia para o cultivo da mandioca, caça, pesca e coleta de frutas.


A desembocadura do rio, denominado Porto dos Patos, era atracadouro de pequenos barcos e portanto inserido na rota das expedições que exploravam e conquistavam o Novo Mundo . Protegidos de ventos, o local era favorável aos batéis das naus e caravelas que se abasteciam de água doce, lenha, madeiras, víveres e mantimentos para prosseguirem viagem.

A várzea cortada pelo Rio Massiambu

O historiador relata ainda que no final do século XIX, o Porto dos Patos no Massiambu era bela várzea, e de fácil comércio marítimo podendo receber os maiores navios do mundo. Também refere-se a um trapiche que havia em 1877, por onde embarcavam gado ao Rio de Janeiro, vindo de Rio Grande do Sul e do interior catarinense.


A expedição de Juan Dias de Solis

A frota do piloto-mor, Juan Dias Solis, experiente navegador português, contratado em 1515 pelo rei Fernando da Espanha, seguiu com três caravelas na árdua missão de encontrar a agem marítima para o Oceano Pacífico. A expedição era composta por três navios e 60 homens, 27 eram portugueses, entre eles Henrique Montes, Diogo Garcia e Aleixo Garcia.

Em fevereiro de 1516, a expedição chegou ao porto de Punta del Este, no estuário no Rio da Prata, na época confundido com mar e deram-lhe o nome de "Mar Doce" por sua largura. Vendo muitas casas de índios gente acenando, o capitão Solis e nove camaradas descerem do batel, curiosos, quiseram ver de perto aquele entusiasmo, não imaginavam que seriam mortos a flechadas, assados inteiros e comidos por índios Charruas daquela região . Na verdade eles não estavam acenando e sim assustados com a chegada das três caravelas.

Sobreviventes desesperados, não se sabe ao certo se foram sete ou onze, retornaram em 1516, para Espanha. Entretanto, a embarcação onde estava Aleixo Garcia perdeu-se das duas restantes e naufragou no extremo sul da Ilha de Santa Catarina, no canal da Barra Sul, talvez com leme avariado devido a uma tempestade. Nadando chegaram à praia batizaram-na de “baía dos perdidos”, porque ali já residiam alguns brancos, hoje, chama-se Praia dos Naufragados . Dos quinze tripulantes náufragos, onze sobreviveram dentre eles Aleixo Garcia, Enrique Montes, Francisco Pacheco e Melchior Ramírez.


Europeus no Massiambu

Um ano após, em 1517, mudaram-se para o lado continental, às margens do rio Maciambu, no Porto dos Patos. Isolados da civilização aram a viver com os índios Guarani Carijó, na Baixada do Rio Massiambu, em Palhoça. Segundo a pesquisadora Rosana Bond o cacique da aldeia mbyá guarani, em Palhoça, Werá Tupã (Leonardo), contou-lhe que ainda guarda muitos registros reados por seus ancestrais carijós. O cacique destacou que os náufragos de Solís foram encontrados desmaiados numa praia hoje pertencente a Palhoça por dois guerreiros que tinham saído para pescar e o pajé decidiu salvá-los.
Esse episódio ocorrido nas três primeiras décadas do descobrimento do Brasil, teve relevante importância para a História do Brasil e de Palhoça, haja vista que daqui partiu a expedição para a conquista da América do Sul e, segundo a jornalista Bond, no local formou-se um dos primeiros núcleos de povoamento europeu da América do sul.
O rei de Portugal ao saber da notícia de que Solis teria ido explorar o Rio da Prata, decidiu pela primeira vez enviar colonos para defender o Brasil. Para isso, em 1516, a Coroa assinou um alvará enviando expedição com três naus, e trezentos tripulantes liderada por Cristóvão Jaques a fim de organizar a colonização e exploração do pau-brasil. Chegando em Santa Catarina, em agosto do mesmo ano, Cristóvão Jaques soube do naufrágio de Solis e capturou sete dos náufragos que estavam vivendo entre os nativos do Maciambu, esses prisioneiros seriam mais tarde trocados entre as coroas.


Aleixo Garcia em Palhoça

Em Palhoça, Aleixo Garcia morou oito anos no Porto dos Patos . Generoso com a tribo guarani e de bom convívio, aprendeu a língua e costumes indígenas. Casou-se com uma(ou mais) índia carió teve um filho chamado Aleixo Garcia Filho e, segundo a autora Rosana Bond, tornou-se uma espécie de líder entre os índios locais, percorreu caminhos jamais visitados por um homem branco. Os guaranis ainda o iram e guardam a lembrança da convivência com Garcia, mesmo que tal relação tenha se dado há quase cinco séculos atrás. Segundo o cacique, antigos ainda comentam sobre sua existência e “Dizem que ele era uma pessoa que apareceu e que era uma pessoa iluminada por Tupã. Tinha o coração bom. Ele veio mandado pelas divindades, com a missão de ajudar os guaranis [...] Ensinaram o Caminho de Peabiru para ele, mas sabiam que não podiam ensinar o caminho para todo mundo. [...]”, explicou o cacique.

A grande Aventura de Aleixo Garcia

Garcia ganhou a confiança da tribo e ouvia atentamente um segredo contado pelos líderes indígenas: Nas terras onde o sol se põe tem um povo que usa roupas, vive em cidades de pedra, possui muito ouro e um rei de pele mais clara. Sobre o caminho para chegar ao El Dorado ou império Inca é o Caminho do Peabiru.

Foz do rio Massiambu - Porto dos Patos



Por volta do ano de 1524, partem da Baixada Massiambu (Porto dos Patos), os verdadeiros descobridores do Paraguai e do império Inca. Após meses de caminhada Aleixo Garcia acompanhado de alguns cristãos, entre eles Francisco Pacheco, guiado por índios guaranis, alcançam o Paraguai pelo rio Pilcomayo (Assuncion) onde os indígenas daquele lugar tinham os mesmos hábitos e língua. Durante quaro meses de viagem alimentavam-se de frutas, mel, pinhão, milho...

No Paraguai, cerca de dois mil índios guerreiros são agregados ao grupo . O exército sobe aos contrafortes dos Andes, chegando à região de Charcas, na atual Bolívia, próximo de Potosi, onde encontrariam a “Serra da Prata”.

Na capital do Império Inca, o grupo de Garcia adentra na fortaleza de Cuzco-tuyo, invade e saqueia ouro e prata que estava sob domínio do “rei branco” chamado Huayna Cápac,. Retornando em 1525 carregados de metal, roupas, ornamentos, coroas de ouro e prata, Aleixo Garcia acampou alguns meses no Paraguay. Teve um fim trágico junto com muitos dos seus integrantes, misteriosamente mortos, assados e comidos pelos índios durante uma emboscada à noite, na atual cidade paraguaia de San Pedro de Ycuamandyju. O ponto ficou conhecido como Garcia-Cué (em guarani, “o lugar onde cambaleou Garcia”) e que hoje é uma praça, chamada Garcia Ca’aguy (“o bosque de Garcia’), acredita-se que aí esteja enterrado seus restos mortais.

No ataque, centenas de homens foram mortos, seu filho e o companheiro Francisco Pacheco, um simpático mulato, sobreviveram ao massacre. Retornaram com alguns índios carregados de certa quantidade do metal e muita história sobre a expedição.

Ao chegarem em SC, Francisco Pacheco relata a aventura e apresenta as peças saqueadas aos navegantes portugueses e espanhóis que chegavam em expedições no Porto dos Patos (Massiambu). A notícia rapidamente percorre continentes chegando aos ouvidos das Coroas Ibéricas (Espanha e Portugal), despertando nas majestades a cobiça pela Serra da Prata .

A jornada aventureira de Aleixo Garcia a partir de Palhoça, a a compor o cenário do descobrimento de diversas regiões do continente sul-americano . Segundo Eduardo Bueno, em seu livro Náufragos, Traficantes e Degredados, depois da aventura de Aleixo Garcia, o Caminho do Peabiru ficou conhecido e transitado por muitas outras expedições a exemplo de 1531 por Pero Lobo, em 1541, pelo capitão-mor Martins Afonso de Sousa, por Nunes Cabeza de Vaca e Ulrich Schmidel em 1553. Os missionários Jesuíta Pedro Lozano e Ruiz de Montoya, teriam utilizado o caminho para catequisar aos Guaranis. Os bandeirantes Raposo Tavares e outros realizaram expedições com a intenção de capturar e escravizar indígenas no Paraná.


Autoria de Neusa Coelho- abril de 2020

Referências e sites consultados

Bond, Rosana. História do Caminho de Peabiru -.Descobertas e segredos da rota indígena que ligava o Atlântico ao Pacífico Vol.1 Editora Aimberê, RJ-2009..


Bond, Rosana. História do Caminho de Peabiru -.Descobertas e segredos da rota indígena que ligava o Atlântico ao Pacífico Vol.2 Editora Aimberê, RJ-2012.


Bond, Rosana. História do Caminho de Peabiru.O milenar, desprezado e pouco estudado ramal litorâneo Vol Extra, Editora Aimberê, RJ-2013.

BOND, Rosana. A Saga de Aleixo Garcia, o Descobridor do Império Inca. Florianópolis: Insular, 1998.

BOND, Rosana. Aleixo Garcia: Algo Mais Sobre a Saga do Descobridor dos Incas”

Bueno, Eduardo. Náufragos, Traficantes e degredados: as primeiras expedições do Brasil, 1500-1533/Eduardo Bueno. 2 ed.- RJ: Objetiva, 2006 162p.: il.

Mosimann, João Carlos. Porto dos Patos:1502-1582-Afantástica e verdadeira história da Ilha de Santa Catarina na era dos descobrimentos/João Carlos Mosimann. Florianópolis: Edição do autor-segunda edição-2004 190 pp.:il

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